Redes Universitárias de Combate à Hanseníase como Tecnologia de Informação e Redução de Estigmas

por Clodis Maria Tavares,

Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas.MORHAN-ALRede Universitária Nacional de Combate a Hanseníase (REUNA/HANS). Brasil.

Joelma Maria Costa,

Universidade Federal do Piauí. Estratégia Saúde da Família do Município de Teresina e do Hospital do MocambinhoMORHAN-PI.REUNA/HANS. Brasil.

e Igor Michel R. dos Santos.

Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas.MORHAN-AL.Rede Universitária Nacional de Combate a Hanseníase (REUNA/HANS). Brasil.
10/08/2020

A Rede Universitária Nacional de Combate à Hanseníase (REUNA-HANS), tem por intuito integrar as instituições de ensino, serviços de saúde, movimentos sociais e associações de natureza científica no desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão que contribuam para disseminação de conhecimentos voltada ao controle e eliminação da hanseníase.

Dessa forma, a inserção de novas tecnologias na área da saúde torna-se cada vez mais presente, pois através dos conhecimentos técnicos e científicos é possível transformá-lo em ferramentas, processos e instrumentos que possam auxiliar na promoção, prevenção e recuperação da saúde do indivíduo (1).

Nesse contexto, a REUNA-HANS trata-se de uma tecnologia leve, desenvolvida por três enfermeiras docentes e duas fisioterapeutas das respectivas instituições: Universidade Federal de Alagoas, Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Rondônia, Universidade Federal de Sergipe e Universidade Federal do Pará. Atualmente, conta com a participação de 26 estados e 225 pessoas distribuídos entre docentes e discentes de instituições públicas e privadas, profissionais de serviços de referência, gestores, pesquisadores e movimentos sociais. A criação da rede tem influência do Movimento de Pessoas atingidas pela Hanseníase (MORHAN), a participação nesse espaço amplia o olhar do pesquisador, para além da doença, uma vez que permite o encontro de pessoas com objetivo comum: a luta no combate a hanseníase, em todos os seus aspectos. Adentrar no espaço de discussão e participação das pessoas que adoeceram ou conviveram com alguém que teve a doença desencadeia uma aproximação com as principais necessidades e lutas desse público.

Nesse contexto, percebeu-se que poderíamos ir além, levar esses anseios para o espaço da academia. Assim, surgiu a rede, possibilitando a troca de experiências dos diversos profissionais integrados, que por meio de estudo de casos clínicos, ou através de apoio interinstitucional, amplia o acesso à informação e atendimento a serviços mais complexos, ainda, corrobora para auxiliar no protagonismo profissional, mobilizando recursos e competências, com vista à promoção e prevenção da hanseníase e a redução do estigma que a doença causa ainda nos dias de hoje.

A criação da rede se concretizou no ano de 2015. Já em 2016, utilizando o espaço disponibilizado pelos congressos da área, fez-se o trabalho de divulgação e captação de profissionais para integrarem a rede, quando se fomentou a ideia de redes estaduais. Assim, no ano seguinte, buscou-se descentralizar, quando se instituíram as 26 redes estaduais. Do grupo participam várias categorias profissionais como enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, cirurgiões dentistas, farmacêuticos, biomédicos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, advogados, sociólogos e antropólogo.

Nessa perspectiva, a rede é composta por uma equipe multiprofissional, o que possibilita um fazer integrado e a construção de um trabalho cooperativo a partir de múltiplas intervenções e técnicas (2). Como tecnologia em saúde, a rede possibilita a troca de experiência de diversos serviços, capacitação de profissionais e pesquisadores, matriciamento de profissionais por expertises da área e a divulgação de pesquisas recentes envolvendo a temática estudada.

A maioria dos profissionais inseridos na rede universitária são referências na área de hanseníase em seus estados e podem utilizar a expertise dos demais para construção de linha de cuidado a essas pessoas em suas realidades locais. Assim como, alguns desempenham atividades como pesquisadores em instituições de ensino, e incansavelmente buscam inserir a temática hanseníase dentro dos grupos de extensões de modo a no futuro bem próximo, reconstruir uma prática necessária à realidade epidemiológica no Brasil.

Nesse sentido, o desenvolvimento de linha de cuidado em hanseníase, em muitos estados parece ainda ser uma realidade distante. Combater a hanseníase é extremamente complexo, uma vez que a doença apresenta vertente não somente de cunho biológico, mas de natureza psicossocial e antropológica (3). Sendo assim, a rede pretende não só fortalecer a discussão das linhas de cuidados às pessoas atingidas pela hanseníase, bem como inserir nessas linhas a discussão a cerca do estigma, uma vez que este interfere no tratamento da doença, pois amplia o isolamento social, dificulta o acesso ao tratamento e pode culminar com a piora da incapacidade (4).

Os estudos evidenciam a necessidade de profissionais preparados para fornecer atendimento voltado não só para a questão biológica da doença, mas para a questão psicológica e até psiquiátrica, uma vez que o estigma social pode induzir distúrbios psicológicos em pessoas com hanseníase. Dessa forma, torna-se necessários profissionais qualificados para fornecer atendimento psicossocial abrangente, considerando que o estigma social que permeia a hanseníase, tem um papel significativo na indução de distúrbios psicológicos como transtornos de depressão e ansiedade (5).

Com a incorporação de novos profissionais na equipe, pesquisadores da área de saúde mental, percebeu-se o quão frágil eram as discussões e estudos acerca da saúde mental das pessoas atingidas pela hanseníase. Desta forma, busca-se ampliar discussões voltada ao estigma do paciente acometido pela hanseníase e seus reflexos na saúde mental.

Portanto, as redes universitárias contribui com a sensibilização e divulgação de conhecimentos envolvendo a hanseníase, permitindo a integração do saber técnico e do científico dos pesquisadores, profissionais e gestores em prol de uma assistência mais efetiva e resolutiva para as pessoas atingidas pela hanseníase. Assim, torna-se necessária ampliação dessa tecnologia em nível estadual e municipal nas diversas instituições de ensino e de saúde do país.

Referências

  1. SANTOS, Z.M.S.A; FROTA, M.A. MARTINS, A.B.T. Tecnologias em saúde: da abordagem teórica a construção e aplicação no cenário do cuidado. Fortaleza: EDUECE, 2016. Disponível em: http://www.uece.br/eduece/dmdocuments/Ebook%20-%20Tecnologia%20em%20Saude%20-%20EBOOK.pdf. Acesso em: 22 jul. 2020.

  2. Ferreira RC, Varga CRR, Silva RF da. Trabalho em equipe multiprofissional: a perspectiva dos residentes médicos em saúde da família. Ciênc Saúde Coletiva. outubro de 2009;14(suppl 1):1421–8.

  3. MINUZZO, D. A. O homem paciente de hanseníase (lepra): representação social, rede social familiar, experiência e imagem corporal. Dissertação (Mestrado em Políticas), Universidade de Évora. 2008. Disponível em: http://rdpc.uevora.pt/bitstream/10174/18293/1/Debora%20Alves%20Minuzzo%20_%20Tese%20de%20Mestrado%20-%20168%20617.pdf. Acesso em: 23 jul. 2020.

  4. Brakel DWHV, Anderson AM, Mutatkar RK, Bakirtzief Z, Nicholls PG, Raju MS, et al. The Participation Scale: Measuring a key concept in public health. Disabil Rehabil. 1o de janeiro de 2006;28(4):193–203.

  5. Singh GP. Psychosocial aspects of Hansen’s disease (leprosy). Indian Dermatol Online J. 9 de janeiro de 2012;3(3):166.